sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Liberdade.

Foi quando senti as gotas caindo em meu rosto que percebi - elas não me feriam mais. Parei no meio da rua e olhei para o alto, fitando o céu cinzento e sentindo cada gota de chuva escorrer pela minha pele e lavar a minha alma, levando consigo cada mágoa e cada ressentimento. Meu cabelo grudava em minhas costas, a camisava colava em meu corpo e o sorriso que brotou em meus lábios foi, pela primeira vez em um bom tempo, absolutamente espontâneo. Meu coração parecia inteiro, livre. As batidas não acompanhavam mais o ritmo daquele coração - faziam o seu próprio ritmo, esperando aparecer a melodia que se encaixaria suavemente na sua. As pessoas me encaravam como se eu fosse louca... Mas, por algum motivo, eu não me importava. Ri - um riso limpo, puro, sincero - baixei a cabeça e segui meu caminho, atrasando cada passo, aproveitando cada respiração.

Então essa é a sensação de viver.


[Para ler ouvindo Candles - Hey Monday]

"Blow the candles out
Looks like a solo tonight
But I think I'll be alright..."

("Apague as velas
Parece que estarei só essa noite
Mas eu acho que vou ficar bem")

terça-feira, 24 de agosto de 2010

"Happy birthday to you..."



A pergunta do dia é: O que aprendi em meus exatos dezesseis anos de vida?

Aprendi que o mundo gira. Tudo que é eterno, invariavelmente encontrará seu fim. Tudo que é verdade, eventualmente será dado como mentira. Aprendi que mesmo que você seja um bom menino, às vezes o Papai Noel não vem - e é decepcionante encontrar a cartinha ainda na meia e nenhum presente debaixo da árvore. Aprendi que não existem príncipes encantados e que nem todos os finais são felizes. E que a palavra "acabou" não significa que nunca houve amor - só que, de alguma maneira, aquilo é o certo a se fazer... Mesmo que machuque.

Aprendi que o mundo é dos que sabem jogar, mas a vida é dos que sabem sonhar e a felicidade é dos que sabem amar. Aprendi que a vida não tem nada a ver com justiça - tem a ver com realidade. Aprendi que nem todas as feridas cicatrizam bem e que nem sempre "um beijinho" faz passar. Aprendi que as pessoas são assustadoras... E que é simplesmente impossível não desapontar ninguém se quiser ser feliz. E que algumas regras simplesmente foram feitas para serem, sim, quebradas. Aprendi que amar não é tudo - às vezes, simplesmente não é o bastante. Aprendi que amar não é aprisionar - na maioria das vezes, amar é libertar... E, de vez em quando, amar é desistir.

Aprendi que é mais fácil falar que fazer, querer que conseguir, sonhar que poder. Aprendi que "desculpe" é uma palavra mágica, mas que nem sempre a mágica resolve tudo. Aprendi que "adeus" nem sempre é o fim. Aprendi que crescer machuca.

E hoje, fazendo dezesseis anos, ainda me sinto como uma garotinha de seis que foi brincar em pátios desconhecidos e não consegue encontrar o caminho de casa... Mas que, de alguma maneira, conseguiu substituir o medo do desconhecido pelo encanto de ver o mundo como gente grande.

"Pequena borboleta
Não importa o quanto você tente
Você será segregada
Você será negada
Você é inexperiente e imatura
Porque você foi pega no meio do caminho

Você tem apenas dezesseis
Tenta cruzar a linha
Mas suas asas ainda não estão prontas
Você tem apenas dezesseis"

[Sixteen - No Doubt]

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

eu não faço sentido...

(... mas, de alguma maneira, você entende.)
 
 
Talvez o problema seja eu - eu,
que sempre gostei de brincar de conquista,
hoje só queria poder brincar de amor.

domingo, 15 de agosto de 2010

"Someday we'll know why I wasn't meant for you..."

Odeio o modo como você dorme com a boca meio aberta, como uma garotinha indefesa. Odeio o modo como você franze o nariz quando ri e como seus olhos se estreitam quando você sorri. Odeio o modo como você sente cócegas nas pernas e como conhece cada um dos meus pontos fracos. Odeio o modo como você sabe exatamente quando preciso de um abraço e como você esconde o rosto nas mãos quando está com vergonha.

Odeio quando você me deixa sem resposta e como sabe que não sei te negar nada. Odeio quando você me lança aquele olhar maroto tão unicamente seu e eu percebo que não consegui me esconder de você. Odeio como você se perde do mundo cantarolando o trecho de uma música qualquer ou observando uma borboleta voar e quando me faz rir muito.

Odeio o modo como nunca é você quando meu telefone toca... E como eu continuo a esperar que seja, mesmo sabendo que só vou ver minhas esperanças desabarem. Odeio o modo como você não tem medo de se aproximar, de me ganhar, de me decifrar e como só consigo esquecer o resto do mundo quando estou perto de você. Odeio o modo como você vê o mundo diferente de todos os outros e como conseguiu me ensinar a enxergar da mesma maneira.

Odeio o seu cheiro, a sua voz, a sua pele, o seu sorriso... Odeio você. Odeio amar cada parte de você. Odeio amar você.


"If I can ask God just one question:
Why aren't you here with me tonight?" ♫

[Someday We'll Know - New Radicals]

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O que você diria se não pudesse dizer nada?

Está tudo escrito em meu olhar...
E é engraçado perceber que você sempre foi o melhor leitor, mesmo que insista em sorrir e fazer de conta que não viu.



"And it's hard to hold a candle
In the cold november rain..."♫

[November Rain - Guns N' Roses]

domingo, 8 de agosto de 2010

Sem nexo, com amor.


Ela aconchegou-se melhor no abraço do garoto, repousando a cabeça em seu ombro nu. Ela vestia uma das camisas dele - aquela sua favorita... Aquela que ele usava só para agradá-la. O sol de fim de tarde adentrava o quarto de mansinho, pintando todas as cores de tons alaranjados. No chão, seus All Star sujos e coloridos se tocavam, os cadarços entrelaçados - como os seus dedos. Os sons da cidade pareciam distantes e irreais - como que vindos de um sonho. Aquele quarto era um mundo à parte... Um mundo exclusivamente deles. Ali as respirações se misturavam e os corações batiam descompassados, seus ritmos perdendo-se e encontrando-se, como em um jogo de pique - esconde. O diálogo era suave, todas as palavras ditas à meia voz, à meia luz.

- Não esperava ver você...
- Quis te fazer uma surpresa.
- Por que veio?
- Porque meu coração bate por você desde que eu era só um moleque de dezesseis anos, que não entendia nada de amor e não sabia o que queria da vida. Só sabia de duas coisas.
- O quê?
- Que eu queria você. - Ele tocou o coração da garota por sobre o tecido fino da camisa. - E que um dia iríamos fugir juntos.
- E por que veio? Quer dizer... Como tinha tanta certeza de que daria certo? - Ela riu baixinho, inspirando o perfume dele.
- Porque quando te vejo, continuo a me sentir um moleque de dezesseis anos. - Ele deu de ombros. - E meu pai me disse que quando eu encontrasse uma garota que me fizesse sentir assim, ela seria a garota da minha vida.

Eles selaram os sorriso em um beijo... Era o "felizes para sempre".

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Abandono.


Na mochila, apenas algumas mudas de roupa, algum dinheiro enrolado em uma meia velha e um livro que pudesse distraí-la do que estava fazendo. Ela ficou parada durante alguns instantes, hesitando, duvidando, arrependendo-se... Então terminou de amarrar os cadarços e levantou-se silenciosamente.

No escuro do quarto, observou a silhueta que repousava tranquilamente do outro lado da cama... Uma lágrima rolou pelo seu rosto, indo brincar no sorriso triste que brotara em seus lábios. Aproximou-se alguns passos, curvou-se sobre a cama e deixou que seus dedos, por um instante, afundassem nos cabelos da jovem e passeassem por sua bochecha. Uma vez mais, parou, pensou... Depositou um beijo leve em sua testa e afastou-se, tomando cuidado para não despertá-la dos seus sonhos.

Suspirou. Tateou a mesinha de cabeceira, em busca de papel e caneta, e rabiscou poucas palavras. Ainda ajoelhada ao lado da cama, enrolou o pedacinho de papel e prendeu-o em sua aliança fina e prateada, deixando ambos sobre o travesseiro onde costumava deitar-se. Atravessou o quarto sem olhar para trás e ganhou o corredor em poucos instantes. Precipitou-se para fora da casa e inspirou profundamente o ar noturno. Chovia - ela não se importava.

Na manhã seguinte, tudo que ela encontraria seria um lado da cama vazio, uma aliança abandonada e as palavras "Eu sinto muito... Não dá mais" ecoando na solidão do quarto.

[Para ler ouvindo: Breathe - Taylor Swift feat. Colbie Caillat]
 
"I see your face in my mind as I drive away
'Cause none of us thought it was gonna end that way
People are people and sometimes we change our minds
But it's killing me to see you go after all this time..."

domingo, 1 de agosto de 2010

Mind Games.




- Então... Você voltou para me visitar. - O rapaz murmurou, sentando-se em uma posição mais confortável no catre pequeno e sujo. Ele sorriu.

A jovem aproximou-se alguns passous e parou, fitando-o por trás das grades. Involuntariamente, seus lábios curvaram-se em um sorriso em resposta ao dele. Ela não reprimiu-se por isso.

- Tinha que vir. - Ela respondeu, sentindo o olhar do rapaz analisar cada traço do seu rosto. - Afinal, nossa relação durou tanto tempo...

- Sentiu minha falta? - Ele arriscou, levantando-se e aproximando-se dela com passos firmes.

Ela fez que não com a cabeça, mantendo um sorrisinho misterioso nos cantos dos lábios. Ele estendeu as mãos, apoiando-as nas barras de metal. Ela imitou o seu gesto, repousando as mãos sobre as dele. Não disseram nada durante alguns instantes, trocando farpas e carícias apenas através dos olhos.

- Encontrei alguém melhor. - Ela explicou, dando de ombros minimamente. - Você sempre disse que não era o meu príncipe encantado e estava certo.

- Veio se despedir? - Ele tentou novamente. Dessa vez, o aceno de cabeça foi afirmativo.

- Espero que possamos ser amigos... Quando você sair daí. - Ela indicou a cela com a cabeça. Ele concordou silenciosamente e eles trocaram um sorriso cúmplice, compartilhando memórias.

Ela passou os braços pelas grades até que as suas mãos tocassem o rosto dele, as pontas dos seus dedos sentindo a barba por fazer, a textura da pele, dos lábios, dos cabelos. Ele aproximou-se, sem muita hesitação, e beijou a palma de sua mão. Ela afastou-se, ainda sorrindo.

- Você vai sentir minha falta. - Ele alertou, dando-lhe um sorriso triste.

- Eu vou sentir sua falta. - Ela lhe confidenciou, já rumando para a saída. - Mas por enquanto estou melhor sem você, Medo.

E assim, sem olhar para trás, ela voltou a cruzar as ruas da cidade. Sabia que algum dia Medo seria solto... Esperava que, quando esse dia chegasse, ela já estivesse pronta para ter uma relação madura com ele - uma amizade onde ele pudesse aceitar sua relação com a Liberdade e ela pudesse perdoá-lo por ter matado a Coragem.

Por enquanto, talvez fosse melhor daquele jeito... Apenas ela e sua Liberdade, descobrindo a vida juntas.


Observação: Texto feito para o Bloínquês.