terça-feira, 29 de novembro de 2011

"As flores têm cheiro de morte...'

Tinham flores lilás no jardim... Em uma das minhas muitas horas de divagações e sonhos lúcidos, tenho certeza que comentei algo a respeito. Podia vê-las da varanda, onde sentava e saboreava a temperatura ideal de um verão já dando seu último adeus, e lembro de transformá-las em nuvem e verso. Hoje sentei na mesma varanda pela primeira vez em meses, com um cobertor para aquecer as pernas e um olhar atento para aquecer a alma. Folheei o caderno, em busca da folha em branco que me inspirasse, preparei a caneta, afiei as palavras. E foi olhando ao redor, em busca de algo que me lembrasse uma musa, que percebi o vazio do jardim - as flores lilás morreram, desapareceram sem deixar um vestígio sequer da sua cor. Sorri de canto, meio amarga, pensando comigo mesma que esse é o mal das flores - brincam de colorir durante primavera, verão e outono, mas não foram feitas para resistir ao inverno... Congelam depois da primeira nevasca, quebram ao menor toque do vento. Fechei o caderno, afastei o cobertor, entrei em casa de novo, querendo combinar o amargo da minha boca ao amargo de um gole de café. Olhei pela janela de novo, desejando, muda, que as flores houvessem migrado para um lugar melhor - boba, eu? Ora, mas não é assim que se tem que ser para sobreviver ao inverno? Verdade seja dita, estava pedindo era por mim mesma - porque, assim como as flores, morro no inverno para me reinventar na primavera. Acabei de ser derrubada pela nevasca e por toques descuidados... E só consigo pensar que queria ser folha de outono, que cai da árvore, mas é leve o suficiente para ser carregada para longe pelo vento para onde quer que seja quente, bonito, novo. Eu fico aqui, soterrada debaixo de sete palmos de neve, esperando o sol ter a fineza de me sorrir, me descongelar e deixar eu nascer de novo. Mais forte, mais bonita, mais poesia... Mais flor.


"Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro!
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Esse samba no escuro

Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar"

(Apesar de você - Chico Buarque)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

"Why is it over?"

O que torna os finais tão doídos não é o que vai, é o que fica. E de todos os finais com os quais nunca soube lidar - finais de livros, finais de filmes, finais de relações e o último gole do café - esse final foi o que deixou mais coisas para trás: O final da gente. Ficou um gosto meio amargo na boca e um ardor meio incômodo nos olhos. Ficou uma sobra de amor misturada com uma falta de você que eu simplesmente não consigo fazer descer pelo nó que ficou em minha garganta. Ficou aquela vontade de rastejar até o sofá e dormir até o mês que vem, embalada pelo som da televisão pra evitar que o silêncio me traga a sua voz. Ficou a vontade azeda de pegar o telefone, discar seu número e pedir pra você me ensinar a esquecer o amor no bolso da outra calça antes de sair de casa - porque, veja bem, esse excesso de carinho que ficou está me matando por dentro. Ficou um mar, um céu, um mundo de palavras que eu não disse (nem pretendo dizer) - palavras doces, palavras amargas e palavras que queimam por dentro. Ficou uma confusão de sonhos despedaçados e promessas esquecidas pelo chão, junto daquele colar que eu atirei na parede porque fazia doer meu peito ao tocar minha pele. Ficou um novelo de memórias na mesinha de centro, um silêncio assustador me ensurdecendo e um abismo intransponível entre a gente. Ficou uma verdadeira catástrofe dentro de mim - um desastre não-tão-natural com direito a furacão, terremoto e tempestade de raios. Ficou tudo meio frio, meio cinza, meio vazio, estranho e sem graça. Ficou aquela sensação de quem despenca do céu a 300km/h e, ainda assim, sobrevive - ficou o choque, a dúvida... Você foi e me deixou aqui, tentando entender como eu sobrevivi à queda e quanto tempo vai levar para me acostumar a viver sem tudo que não sobreviveu. Ficou decepção, mas, acima de tudo, ficou tristeza - uma tristeza funda e sufocante. Ficou tristeza porque acabou - é, menina, acabou. Acabou de verdade, acabou pra valer. Acabou no minuto em que você esqueceu o amor no bolso da outra calça. Acabou e ficou tanta, tanta coisa pra varrer, limpar, jogar fora... Tanta coisa que faz doer.

Esse final, menina, está doendo mais que todos os outros.


"And the tears come streaming down your face
When you lose something you can't replace
When you love someone, but it goes to waste
Coud it be worse?"

(Fix You - Coldplay)

sábado, 5 de novembro de 2011

"Ai que saudade d'ocê..."

Eu sou difícil, você sabe. Sou ciumenta a ponto de me aborrecer com o vento que pode bagunçar seu cabelo e detestar a lua que pode velar seu sono. Sou insegura daquele jeito que me faz esconder o rosto no travesseiro e soluçar baixinho até pegar no sono, com a luz acesa e a porta aberta, querendo que você me apareça no meio da madrugada, prometa que vai ficar tudo bem com o nosso amor e me aconchegue no seu abraço quentinho. Sou cabeça-dura e me recuso a acreditar quando me dizem que você me ama, que não te interessa o resto, que posso descansar meus olhinhos assustados agora - não é falta de confiança em você, é só esse meu pessimismo, esse bichinho raivoso em meu peito que insiste em dizer que vai dar tudo errado porque eu te amo tanto. Isso pra não falar que sou tão infantil que entreguei meu coração pra você com fita de cetim pra enfeitar - e isso mesmo depois de passar aquelas tantas horas na frente do espelho, repetindo pra mim mesma que é de desafios que você gosta e que, se eu for toda-sua-só-sua-tão-sua, você não vai mais me querer. (Ah, continue me querendo, por favor...) Eu sou difícil. Sou romântica de um jeito que chega a enjoar, levanto a bandeira de "o amor é a maior coisa nessa vida" e visto a camisa dos sonhadores inveterados. E, Deus, como tenho medo de você enjoar de mim - porque, verdade seja dita, de vez em quando até eu enjoo, só não me largo porque ainda não descobri como. Sou difícil, sou covarde, fujo quando as coisas ficam sérias - e, ainda assim, por você eu fiquei. Fiquei porque te amo, porque com você eu quero as infantilidades do "felizes para sempre", os aborrecimentos das manhãs de segunda-feira, os cafunés das tardes de domingo e tudo que vier no meio disso. Eu sou só eu... Não sou nenhum príncipe encantado, ainda não descobri como engarrafar as estrelas pra te dar. Mas, se você me deixar, prometo lutar para realizar todos os seus sonhos - da casinha de madeira à casa do piano, passando pela casinha de cobertor e com flores lilás te esperando a cada curva do caminho. Eu sei que não sou muito... Mas está vendo esse anel aí no seu dedo da mão direita, menina? Prometo que um dia ele passa pra a mão esquerda.


"I'm already there
Take a look around
I'm the sunshine in your hair
I'm the shadow on the ground
I'm the whisper in the wind
And I'll be there 'till the end
Can you feel the love that we share?
Oh, I'm already there..."

(I'm already there - Westlife)