sexta-feira, 18 de maio de 2012

Com todo o meu carinho.

Um ano atrás, quando você me encontrou naquela encruzilhada do destino, éramos poeira cósmica sem rumo e sem lar. Éramos dor, pedaços soltos e lembranças vazias. Éramos nada. Em mim, o caos era mais completo que em um mundo pós-apocalíptico e o meu coração, mais sem vida que o universo pré-Big Bang. Eu havia matado todos os meus sonhos - assassinado, um por um, cada desejo, até não sobrar nada além de desesperança, apatia e desprezo. Eu não tinha força suficiente nem para sentir raiva. Não tinha energia para levantar, errar, aprender, acreditar, recomeçar. Eu não queria a morte - queria mais, queria um estado de coma eterno, em que pudesse ter paz. E foi você que me reconstruiu. Palavra por palavra, sorriso por sorriso, você foi me ajudando a catar os frangalhos de minha vida e colocá-los no lugar. Minha confiança, pouco a pouco, se reergueu. E eu? Eu fui renascendo das cinzas, célula por célula. Eu poderia dizer que você me transformou em fênix, mas a verdade é outra - você me fez humana. Você foi a fênix que chorou em mim suas lágrimas até que cada ferida se tornasse cicatriz e cada gota de veneno secasse de meu sangue. Cada flor foi verdade, cada beijo, cada noite, cada tarde, cada gota de suor ou de lágrima, cada pouco de ternura, cada minuto de saudade. Eu fui verdade, você foi verdade, nós fomos mais - fomos infinitas do início ao fim, eternas enquanto durou. Eu me entreguei a você como uma criancinha se joga nos braços da mãe - pedindo colo, proteção e um beijo na testa febril. E você me deu todas as estrelas do céu. Obrigada. Eu abracei seus sonhos como se fossem meus e fiz deles o pulsar que faltava em meu coração. Durante meses sem fim, durante as noites mais longas, durante os olhares mais profundos, foram eles que mantiveram uma pulsação estável em meu peito oco.  Foi você quem plantou a semente em meu peito, quem a regou todos os dias com as gotas mais puras de amor, quem a protegeu de cada ameaça. E a semente virou broto, que se fez planta crescida e de onde, hoje, brotam botões de cravos cor-de-rosa. Em seus braços, virei menina-moça, e hoje me desvencilho de seu abraço preparada para ser mulher. Não chore. Não lamente. Não se culpe e, se possível, não me culpe. Quis ser sua por toda a minha vida, mas você fez comigo a coisa mais bonita que um ser humano pode fazer a outro - você me deu a mim mesma, me fez ser minha em primeiríssimo lugar. E a desesperança que se agarrava a meus tornozelos deu lugar a sonhos - sonhos meus, que podem até não ser os mais bonitos, mas nasceram desse coração novo que nasceu em mim. Lembra daquele fantasma que vivia acorrentado ao meu pulso, lembrando-me constantemente que eu não era boa o suficiente para ninguém? Você o mandou embora, com toda essa sua luz. E eu entendi que sou humana, que meus erros não me definem, que estou em construção - para mim, não para o mundo. Sei que talvez isso não te interesse mais, mas voltei a comer. Também joguei fora a lâmina que fez tantos rasgos em minha pele. Decidi fazer o piercing que sempre quis, aprendi a não depender de ninguém além de mim mesma, entrei em trégua com meus pais e comigo mesma. Não tenho mais medo de pessoas, não sorrio para agradar ninguém, não falo só para preencher silêncios - silêncios existem por um motivo e, em geral, dizem mais que qualquer palavra. Não sei aonde quero ir, não sei com quem quero estar - mas descobri um estado de paz tão absoluto que não preciso saber de nada... Só que estou indo em frente. Devo mais a você do que qualquer palavra poderia expressar - obrigada. E espero que um dia me perdoe por não poder ficar. Espero que um dia leia essa carta e sorria, sabendo que transformou a existência de alguém em vida e que esse meu "adeus" é necessário simplesmente porque estou de mudança - o apartamentozinho em que costumava guardar os cacos da minha alma ficou pequeno demais para a felicidade que preencheu cada buraco. Obrigada. Obrigada. Obrigada. Obrigada por me recomeçar. (Deixo o fim dessas linhas ser um curto silêncio, porque ultimamente as palavras tem se tornado vagas demais para expressar...)



"Desejo que você tenha a quem amar
E, quando estiver bem cansado,
Ainda exista amor pra recomeçar..."

(Frejat)