sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Só pra você entender porque estou desistindo...

"- O que acontece quando uma força que não pode ser parada vai de encontro a um objeto que não pode ser movido?
- Isso nunca acontece. Se existe uma coisa que não pode ser parada, não é possível que exista outra coisa que não pode ser movida e vice-versa. É um paradoxo, entende? É uma pegadinha".
 
Essa nunca foi uma luta justa, nós sempre soubemos... Sua escolha já estava feita o tempo inteiro e só eu não tinha percebido isso ainda. Mas eu percebi agora. E eu espero, mesmo, que vocês sejam felizes... Que ele queira você tanto quanto eu quero, mas que também te ame tanto quanto eu amo - o suficiente pra te ver com outra pessoa e aceitar isso caso você esteja feliz. O suficiente pra deixar você chorar no ombro dele por outro alguém. O suficiente pra ser seu amigo, seu irmão, seu namorado ou o que quer que você precise que ele seja. Perdoe a minha persistência, mas não existe desistência sem luta.
E lembre sempre que eu te amo.


"Mais do que tudo, eu queria ser o motivo da sua felicidade. Mas se eu não sou, então... Não posso atrapalhar. Você vê? Porque o que você está sentindo agora é uma força que ninguém pára... O que significa que eu tenho que sair."
 
(Trechos entre aspas do filme "Imagine Eu e Você")

domingo, 17 de outubro de 2010

Ela. Simplesmente ela.

Ela gosta de maracujá - em especial de trufa de maracujá - e de tudo que contenha morango. Ela gosta mais do Sonho de Valsa branco e do M&M's que tem amendoim dentro. Ela gosta de coisas alegres. Ela tem mania de rabiscar em guardanapos e de almoçar com as pernas cruzadas. Ela gosta de arte em tecido e pinta mais do que desenha. Ela gosta mais de vermelho que de azul e prefere o Coringa ao Batman. Ela é forte, mas chora fácil. Ela gosta de Star Treck, Beatles, Guns, AC/DC, All Star, Homem Aranha e coisas da Coca-Cola. Ela gosta de borboletas, joaninhas e do Bob Esponja. Ela é muito mais responsável do que aparenta. Ela franze o nariz e aperta os olhos quando ri e não costuma usar meias iguais. Ela gosta de jujuba e de chocolate, de desenhos da Disney e de cultura japonesa, de maçãs do amor, coturnos e nunca comeu um Kinder Ovo.

Ela é aquela garota de cabelos e olhos castanhos que talvez não se destaque em uma multidão... Mas que te faz parar e olhar novamente assim que sorri. E você simplesmente não se cansa de olhar. E, quando você menos espera, já quer ouvir aquela voz todos os dias... Já não consegue tirar aquele sorriso da cabeça. Já não pode negar que se apaixonou. E tudo que você quer é que ela olhe em sua direção e diga que está tudo bem - você pode se aproximar, abraçá-la e fazê-la feliz para sempre.






"Até parece que você já tinha
O meu manual de instruções
Porque você decifra os meus sonhos
Porque você sabe o que eu gosto
E porque quando você me abraça
O mundo gira devagar..."

[Equalize - Pitty]

domingo, 10 de outubro de 2010

"mother, looking at me, tell me: what do you see?"

Os minutos se passavam devagar, cada um deles parecendo conter dentro de si uma eternidade. A madeira escura da porta estava ali, bem diante dos meus olhos - era a porta que eu passara os últimos meses esperando para encarar novamente. Segurava a chave com tamanha firmeza que os nós dos meus dedos estavam brancos e, apesar disso, o único ruído que quebrava o silêncio era o leve tilintar do chaveiro enquanto minha mão tremia.

"Será que vão me odiar pelas escolhas que eu fiz?", minha voz soou baixa e insegura.

Seus passos soaram altos como trovões na quietude do hall quando ela aproximou-se por trás, passando os braços pela minha cintura e repousando suavemente o queixo no meu ombro. Senti seu hálito quente em minha bochecha - as batidas aceleradas e irregulares do meu coração distoavam completamente dos batimentos ritmados do seu.

"Bobagem", sentenciou ela, em um murmúrio confiante. "Eles sentem sua falta. Eles amam você. Você não fez nada de errado. Eles não têm motivos para te odiar".

"Espero que eles aprendam a amar você tanto quanto eu amo", lhe confidenciei, e não pude deixar de sorrir ao ouvir seu riso baixo e envergonhado.

Deixei minha mão correr até seu queixo, puxando o rosto dela com delicadeza para mais perto do meu até que nossos lábios se tocassem em um beijo terno. As borboletas em meu estômago se agitaram - como aquilo podia ser considerado errado se me fazia sentir tão bem? Realmente importava se éramos duas garotas quando éramos tão felizes juntas?

Inspirei profundamente - seu perfume estava em todos os lugares. Hesitei. Senti sua mão em meu braço, empurrando-o levemente para frente. Suspirei, vencida. Enfiei a chave na fechadura e girei-a. A porta rangiu ao abrir-se.

"Mãe? Pai?", chamei, ouvindo o som de risos e cadeiras arrastando-se no chão como resposta. "Precisamos conversar..."


[Texto escrito para o Bloinquês]

domingo, 3 de outubro de 2010

"Eu vi você, até senti tua mão e achei até que me caía bem como uma luva..."


 Se me perguntassem, não saberia dizer como o telefone havia ido parar, uma vez mais, entre meus dedos trêmulos. As últimas horas haviam passado em um borrão indistinto - uma mistura estranha de bares, bebidas, lábios, mãos e luzes nublando meus pensamentos. Eu havia bebido durante toda a madrugada, tinha certeza... Minha cabeça latejava e rodava e minha roupa cheirava fortemente a álcool.

E, apesar de não me lembrar do que havia feito ou de como havia chegado até o meu sofá, com o telefone encostado ao ouvido, eu sabia para quem estava ligando antes mesmo que a voz soasse do outro lado da linha. Não havia como duvidar.

- Por onde andou nos últimos dias? - Foi a saudação calmamente pronunciada. E eu estremeci, como sempre estremecia quando ouvia a voz dele. - Não recebi notícias suas.

- Estava por aí. - Tentei fingir não me importar. Tentei manter meu tom descontraído. Tentei impedir que cada parte do meu corpo implorasse por mais algumas palavras... Palavras que não vieram. Suspirei, vencida. - Estive tentando não sentir sua falta... Tentando ser forte sem você.

- Não entendo essa sua forma estranha de sentir saudades. - Ele murmurou, e eu sabia dizer exatamente qual era sua expressão.

Sabia que seus braços estavam cruzados sobre seu peito e que suas sombrancelhas estavam unidas sobre seus olhos castanhos, sua testa franzida. Era tão raro vê-lo aborrecido que quase me senti culpada por ter arruinado sua constante alegria. Quase. Estava ocupada demais tentando lutar contra um sorriso... Porque aquela era a forma que ele tinha de dizer que não me queria em outros braços.

- Eu tento te encontrar em outra pessoa... Mas, no final, a sua foto é o que me traz um pouco de paz. - Fechei os olhos ao falar, imaginando a expressão em seu rosto suavizar-se pouco a pouco, transformando-se em um sorriso disfarçado. Ele detestava clichês, mas amava quando era eu quem os dizia. - Você não sabe a falta que você me faz.

- Ontem nossa música tocou no rádio. - Ele confessou, hesitante. Imaginei sua camisa xadrez, seu perfume discreto, os fios de cabelo caindo em seus olhos. Tive vontade de erguer a mão e afastá-los, apenas para que ele a segurasse e plantasse um beijo em sua palma. - E eu desejei estar mais perto... Desejei poder te proteger dos trovões. - Rimos debilmente. Lutei contra as lágrimas. - Talvez a gente não tivesse que se separar, no final... Nem consigo me lembrar porque acabou.

- Talvez você pudesse voltar. - Propus, afastando um tremor da voz.

Tive vontade de rir novamente das suas tentativas mal-sucedidas de tocar violão. De lhe ajudar a procurar o casaco pela confusão da casa. De ouvi-lo murmurar, maroto, que eu baixava os olhos e mexia os dedos quando mentia. De perder a noção do tempo entre músicas, risos e solos imaginários de bateria.

- Talvez. - Ele concordou, hesitante, e meu coração contraiu-se dolorosamente em meu peito. - Mas não agora. Agora preciso organizar a minha vida. E você precisa dar um jeito na sua. Tente não passar mais uma semana sem me ligar, certo? - E eu sabia que ele estava confessando sentir falta da minha voz. Estava confessando me amar.

- Tente encontrar o par certo da sua meia antes de sair. - Ele riu. Sabia que eu estava confessando amá-lo. Sem responder, desligou o telefone.

Afundei meu rosto em uma almofada próxima, deixando o telefone rolar para o chão e minhas pálpebras se fecharem pesadamente. O latejar da minha cabeça foi, devagar, cedendo espaço para a inconsciência - e a realidade deixou-se levar por aquele beijo, com as pontas de nossos All Star tocando-se ternamente.

[Texto escrito para o Bloinquês.]