segunda-feira, 4 de junho de 2012

Contos para tirar da boca o amargo.

Seus braços de pássaro me envolvem, suas pernas de bailarina-cigana-errante me roubam os quadris e seu riso de cigarro, cerveja e piadas baratas me convida a dançar - sincronia imperfeita de lábios perfeitamente estranhos aos hábitos uns dos outros. Garoa fina lavando da pele o cheiro de segredo mal-guardado e música distante abafando os suspiros de dedos dormentes que exploram as asas de suas costas, onde, um dia, já nasceram suas asas de pássaro, meu anjo caído. Balé desajeitado de tudo que se perde aos poucos - a vergonha, o medo, as máscaras, as roupas amarrotadas. Como faríamos com uma peça pequena demais para vestir, de olhos fechados nos desfazemos do mundo e ganhamos as alturas - de nuvens a estrelas, de riso a infinito, de olhares que se tocam a corpos que se pedem e almas que se prendem. Poesia em construção somos nós, rimando os espaços entre os dedos, preenchendo os espaços entre os abraços, abusando da liberdade poética para esquecer pontuações e espaços. Viramos vocêeeu, junto assim, confuso assim, misturado assim ao ponto de ser simples, como uma conta de dividir que termina dando inteiros aos que antes eram frações e decimais. Suas palavras se perdem no oco da minha boca, as minhas se enroscam em sua língua e nós damos um nó. Sou beija-flor roubando suas asas, você é flor ganhando meu sofrível vôo. Voamos juntas e não caímos - quem precisa ser anjo quando se pode ser umemdois? Não deixo espaços para que seu gosto não me escape e, embriagada, você dorme em meu mundo, desvenda meu mistério, sequestra meu batimento irregular. E eu me deixo levar no seu pé-de-vento, bailarina-brisa-de-outono...


"Toda vez que eu errava você dizia
Pra eu me soltar porque você me conduzia
Mesmo sem jeito, eu fui topando essa parada
E no final achei tranquilo

Só sei dançar com você..."

(Só sei dançar com você - Tulipa Ruiz)