domingo, 3 de outubro de 2010

"Eu vi você, até senti tua mão e achei até que me caía bem como uma luva..."


 Se me perguntassem, não saberia dizer como o telefone havia ido parar, uma vez mais, entre meus dedos trêmulos. As últimas horas haviam passado em um borrão indistinto - uma mistura estranha de bares, bebidas, lábios, mãos e luzes nublando meus pensamentos. Eu havia bebido durante toda a madrugada, tinha certeza... Minha cabeça latejava e rodava e minha roupa cheirava fortemente a álcool.

E, apesar de não me lembrar do que havia feito ou de como havia chegado até o meu sofá, com o telefone encostado ao ouvido, eu sabia para quem estava ligando antes mesmo que a voz soasse do outro lado da linha. Não havia como duvidar.

- Por onde andou nos últimos dias? - Foi a saudação calmamente pronunciada. E eu estremeci, como sempre estremecia quando ouvia a voz dele. - Não recebi notícias suas.

- Estava por aí. - Tentei fingir não me importar. Tentei manter meu tom descontraído. Tentei impedir que cada parte do meu corpo implorasse por mais algumas palavras... Palavras que não vieram. Suspirei, vencida. - Estive tentando não sentir sua falta... Tentando ser forte sem você.

- Não entendo essa sua forma estranha de sentir saudades. - Ele murmurou, e eu sabia dizer exatamente qual era sua expressão.

Sabia que seus braços estavam cruzados sobre seu peito e que suas sombrancelhas estavam unidas sobre seus olhos castanhos, sua testa franzida. Era tão raro vê-lo aborrecido que quase me senti culpada por ter arruinado sua constante alegria. Quase. Estava ocupada demais tentando lutar contra um sorriso... Porque aquela era a forma que ele tinha de dizer que não me queria em outros braços.

- Eu tento te encontrar em outra pessoa... Mas, no final, a sua foto é o que me traz um pouco de paz. - Fechei os olhos ao falar, imaginando a expressão em seu rosto suavizar-se pouco a pouco, transformando-se em um sorriso disfarçado. Ele detestava clichês, mas amava quando era eu quem os dizia. - Você não sabe a falta que você me faz.

- Ontem nossa música tocou no rádio. - Ele confessou, hesitante. Imaginei sua camisa xadrez, seu perfume discreto, os fios de cabelo caindo em seus olhos. Tive vontade de erguer a mão e afastá-los, apenas para que ele a segurasse e plantasse um beijo em sua palma. - E eu desejei estar mais perto... Desejei poder te proteger dos trovões. - Rimos debilmente. Lutei contra as lágrimas. - Talvez a gente não tivesse que se separar, no final... Nem consigo me lembrar porque acabou.

- Talvez você pudesse voltar. - Propus, afastando um tremor da voz.

Tive vontade de rir novamente das suas tentativas mal-sucedidas de tocar violão. De lhe ajudar a procurar o casaco pela confusão da casa. De ouvi-lo murmurar, maroto, que eu baixava os olhos e mexia os dedos quando mentia. De perder a noção do tempo entre músicas, risos e solos imaginários de bateria.

- Talvez. - Ele concordou, hesitante, e meu coração contraiu-se dolorosamente em meu peito. - Mas não agora. Agora preciso organizar a minha vida. E você precisa dar um jeito na sua. Tente não passar mais uma semana sem me ligar, certo? - E eu sabia que ele estava confessando sentir falta da minha voz. Estava confessando me amar.

- Tente encontrar o par certo da sua meia antes de sair. - Ele riu. Sabia que eu estava confessando amá-lo. Sem responder, desligou o telefone.

Afundei meu rosto em uma almofada próxima, deixando o telefone rolar para o chão e minhas pálpebras se fecharem pesadamente. O latejar da minha cabeça foi, devagar, cedendo espaço para a inconsciência - e a realidade deixou-se levar por aquele beijo, com as pontas de nossos All Star tocando-se ternamente.

[Texto escrito para o Bloinquês.]

5 comentários:

Juliana disse...

esse texto pareceu uma mistura. me lembrei de uma pessoa no começo mas do meio ate o final eu me lembrei de outra xD
ta lindo,normal xD
te amo, bjoo

Ana Carolina Lima disse...

Gostei do texto D:
só não gostei do tipo de fonte de letra que tu escreve, como teu fundo é escuro acho que derrepente mudando a fonte da postagem se tornaria melhor.
como, eu gosto deste tipo de cores do seu blog sou suspeita para falar.
linds blog D:

Desirée disse...

se eles se amam, pq não ficam juntos minha stevie rae?!

Sandra disse...

Da janela do meu quarto vou escrever e falar do meu amor por ti. Estou com saudades e você não vem. O meu amor é imenso e faz com que eu te espere.
http://sandrarandrade7.blogspot.com/
Carinhosamente, estamos nesta coletiva.
sandra

G I L B E R T O disse...

T

Como sempre, um texto poderoso, lindo, bem escrito!

Sou, sem quaisquer sombras de dúvidas, um fã de teu texto, minha amiga!

Haverão aqueles, tenho certeza, que falarão que escreves muito a tristeza, a dor e sofrimento - não se importe com isso - escrever é sentimento, sejam eles quais forem, e teu texto navega bem por estas searas, falando de relacionamentos com coragem e com paixão avassaladoras.

Estejas bem, mon ami, estejas bem agora e sempre!