quarta-feira, 15 de setembro de 2010

"Um café e um amor. Bem quentes, por favor!"

- Sabe... Estive pensando em você. - Comentou a maior, sem encarar a garota a quem dirigia tais palavras. Seus olhos estavam firmes no tampo escuro da mesa e ela tinha consciência de cada batida do seu coração. Estava tremendo.

- Em mim? - Perguntou a de cabelos escuros, pega de surpresa. Não é que não soubesse... Até tinha uma ideia. Mas o silêncio da outra lhe pesara nas costas por tanto tempo que era uma surpresa ouvi-la tocar no assunto. Estivera se perguntando se não estava apenas vendo o que queria ver.

- É. - Concordou a primeira, deixando que um sorrisinho tomasse conta de seus lábios. - Nessa sua mania de Beatles e trufa de maracujá. Nesse seu sorriso de rosa cor-de-rosa e prosa escrita à caneta. Nesse seu caminhar de amante do vento, nesse seu olhar de menina de lua, nesse seu abraço quente de quem não quer ir embora.

- Talvez eu não queira ir embora. - Murmurou a menor, observando o céu alternar tonalidades de azul, laranja e púrpura em um perfeito pôr-do-sol.

- E eu descobri que quero estar com você. - Continuou a mais velha, erguendo os olhos até as feições delicadas da outra garota. - Que quero descobrir todas as suas manias, sonhos, fantasias, planos e detalhes e defeitos.

- Não é suficiente. - Ela sacudiu a cabeça, trincando os dentes. Não sabia se desejava afastar um sorriso ou uma lágrima... Talvez os dois. Talvez a vontade de pedir um abraço e silêncio confortável.

- E que quero amar cada parte de você mesmo quando tivermos brigado, mesmo quando você chorar, mesmo quando estiver chovendo, mesmo quando for inverno. - Ela empurrou uma trufa de morango com as pontas dos dedos até que alcançasse o outro lado da mesa. Sorriu. - E te provar que maracujá não é tão bom assim.

A menor sorriu, seus cabelos escuros entrando em uma dança lenta com o vento ao redor de seus ombros. Sua mão contornou a trufa, repousando sobre a outra mão - era consideravelmente mais fria, com calos de violão nos dedos. Seus olhos também sorriram - eram castanhos como chocolate. Ainda não era suficiente... Mas, tratando-se dela, a garota duvidada que algum dia fosse ser o bastante.

Vieram as xícaras de café e a conversa tomou outro rumo. O tempo estava frio, certo? Certo. Mas logo estaria melhor - era Setembro e a primavera já começava a dar sinais sutis de sua aproximação. Trocaram sorrisos cúmplices. A de cabelos escuros tomou um gole de seu café, fazendo uma careta em seguida. Elas riram. Foi a vez da outra provar o líquido fumegante. Não houve careta, mas elas riram mesmo assim. Pagaram a conta. Hesitaram. Saíram de mãos dadas.

Não voltaram a tocar no assunto, mas dividiram a trufa de morango. Talvez aquilo quisesse dizer algo.


[Texto escrito para o Bloinquês]

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