quarta-feira, 1 de agosto de 2012

"E quem irá dizer que não existe razão?"

Ela tinha vinte, ele tinha dezoito. Ela estava no sexto semestre da faculdade, ele ainda estava a dois meses do vestibular. Ela falava das estrelas, ele se encantava pelos olhos dela. Ela, Mônica; ele, Eduardo. Se conheceram em uma festa qualquer, já depois do quinto copo. Trocaram telefones quando ele precisou procurar sua carona para casa - ela mandou a primeira mensagem. Ele deu o primeiro passo no dia seguinte. E, de repente, se viram passando os dias a espera das mensagens um do outro. Ele, no colégio; ela, no estágio. Ele, na aula de teatro; ela, no ônibus. Ela gostava de chocolate ao leite, ele gostava de meio-amargo. Ele amava café, ela adorava chocolate quente. Ele era apaixonado por A Vida é Bela; ela, por Amelie Poulain. Ele arranhava no violão, ela desenhava como ninguém. Ela conhecia todos os pintores famosos, ele se interessava pelos escritores nacionais. Ela falava francês, ele arranhava no italiano. Ela sabia de todas as festas, ele só conhecia o que o acaso lhe mostrava. E, ainda assim, ambos eram apaixonados por Woody Allen e Almodóvar. Os dois discutiam Bukowski, Kerouac, Wilde e Hemingway, debatiam as ideias de Bauman e as sensações provocadas por A Pele Que Habito. Quando as mãos se encontravam, pediam por eternidade - a pele dele, tão fria, contra a dela, tão quente. Quando os lábios se tocavam, o externo desaparecia por alguns segundos - e ela sequer sabia que ele comparava seu beijo ao tipo mais delicioso e inebriante de vinho, por ser lento e intenso, doce na medida, deixar na boca o gosto fresco de "quero só mais um pouco por todo o resto do tempo". Ouviam Cazuza e O Teatro Mágico e trocavam mensagens com trechos das músicas. Emprestavam livros e, pouco a pouco, pedaços de si. Ele era apaixonado pela voz dela; ela, pela textura dos cabelos dele. Ela amava como os olhos dele eram amendoados; ele, como o tom de verde das íris dela era puxado para o castanho. Ela o ensinava a dançar, ele tocava algumas bobagens no violão para ela. Ele, Eduardo; Ela, Mônica. Por um acaso qualquer, se esbarraram... Por um acaso qualquer, se apaixonaram. E do resto o tempo cuida, e o resto a vida leva... Do futuro ninguém sabe. Eles só pedem que seja doce...


"Eduardo e Mônica eram nada parecidos
Ela era de leão e ele tinha dezesseis
Ela fazia medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês
Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus
Van Gogh e dos Mutantes, de Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela e jogava futebol de botão com seu avô
Ela falava coisas sobre o Planalto Central, também magia e meditação
E o Eduardo ainda tava no esquema escola, cinema, clube e televisão
E mesmo com tudo diferente veio um medo de repente, uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia e a vontade crescia como tinha de ser..."

(Eduardo e Mônica - Legião Urbana)

1 comentários:

Any disse...

Nossa, ficou mt bom MESMO! Tá, a música é perfeita por si só.. Mas você captou o q ela diz e 'contou' como ninguém! Adorei. Acho que até me identifiquei um pouco com a sua Mônia hahah. Ficou lindo *-*