domingo, 6 de fevereiro de 2011

"Me ensina a solidão de ser só dois..."

Uma atípica noite de verão. No céu, as estrelas brilhavam fracamente por detrás de uma grossa camada de nuvens cinzentas.  Um vento frio cortava o ar, agitando as copas das árvores e fazendo um redemoinho de papéis descartados no chão da rua rodopiar freneticamente. A lâmpada de um poste piscava.

Nada daquilo parecia incomodar a figura solitária que atravessava a desolação do lugar a passos largos. A garota mantinha a cabeça baixa para manter o rosto protegido das chicotadas do vento – e para que nenhum passante ocasional percebesse as lágrimas que escorriam furiosamente pelas suas bochechas coradas

A porta de vidro do prédio que ela acabara de deixar ainda balançava fracamente em suas dobradiças – era um edifício antigo, reformado para abrigar um cinema. Um letreiro luminoso indicava um romance qualquer ao qual ela deveria estar assistindo no momento. Com ele. Mas ela não queria pensar nele naquele momento... Não queria pensar nele nunca mais.

A porta girou violentamente para dentro, produzindo um estrondo ao atingir algo sólido – a parede, provavelmente. O garoto que disparou para a rua, no entanto, não pareceu se importar. Ele, também, parecia alheio a qualquer coisa que estivesse em seu caminho. Seu objetivo era único – aquela garota alguns metros à frente. E ele correu para alcança-la.

“Espere!”, ele gritou. Ela apertou o passo ao ouvir aquela voz, mas não foi rápida o suficiente. Ele estendeu a mão e segurou o seu pulso, impedindo o seu avanço. “Por favor”.

“O que você quer?”, ela perguntou, girando nos calcanhares para ficar de frente para ele.

O coração da garota pareceu falhar uma batida ao encontrar aqueles olhos – eram castanhos, grandes e brilhantes, como os olhos de um menininho. E aquele rosto... Ah, aquele rosto que mesmo sob uma incomum máscara de seriedade parecia prestes a derreter-se em uma gargalhada, os lábios que pareciam sempre prontos a oferecer um sorriso... O aperto firme e gentil em seu pulso de uma mão de dedos ásperos. Ela poderia se perder naquilo tudo... Poderia se perder naquele garoto de jeans surrados e All Star.

Mas nada daquilo – nenhum daqueles detalhes que ela daria o mundo para ter só para ela – mudava nada. E após dois longos segundos de tontura, seus pés se firmaram no chão com um doloroso impacto e a raiva borbulhou novamente em seu peito. Ela queria bater nele. E beijá-lo. E então bater nele novamente por fazê-la ter vontade de beijá-lo.

“Eu quero você”, ele respondeu. Ela cerrou os punhos, trincou os dentes e fechou os olhos.

E ali estavam elas... As palavras. As mesmas de cinco minutos atrás. De um ano atrás. As mesmas que ela desejara ouvir por tanto tempo... E que ele só dizia agora, quando ela havia finalmente desistido da luta que todos diziam ser perdida. Por que só agora?

“É, você já disse isso antes”, ela murmurou, sua voz soando mais fria que o ar gelado da noite. Ele não pareceu assustado. “Antes de conhecer a minha família complicada, as minhas amigas lunáticas e as minhas manias irritantes”.

“Não, não, você não entendeu!”, ele protestou, puxando-a para perto novamente quando ela fez menção de se afastar. “Eu quero tudo isso também!”.

Ela fitou-o, atônita.

“Mas você disse, quando a gente terminou, que...”, ela começou, confusa.

“Eu sei o que eu disse”, ele interrompeu, sem cerimônias. Ela não se aborreceu, simplesmente esperou. “Mas eu descobri que eu quero tudo isso! Que meus finais de semana não são os mesmos sem as suas amigas lunáticas julgando cada gesto meu e fazendo comentários maldosos. Que minhas noites não tem graça quando não ligo para você com medo de sua mãe atender e desligar o telefone. De novo. Que não consigo ver um filme sem a sua pipoca sem sal, andar pela casa sem você para me mandar tirar os tênis nem usar minha camisa favorita sem você para criticar o quanto ela é ridícula”.

Ela abriu um meio sorriso à menção de todas aquelas coisas. Ela sentia falta de tudo aquilo, era verdade... Mas ele havia terminado com ela. Por tudo aquilo. O sorriso se desfez e ela desprendeu o pulso do aperto do garoto.

“O que você quer, afinal?”, ela gritou, irritada, jogando as mãos para o alto e dando dois passos para longe do garoto. Ele não avançou. Não tentou segurá-la novamente. Não sorriu. Apenas deu de ombros minimamente e respondeu:

“Eu quero você. Você e tudo que vier com você – as brigas, a família complicada, as manias irritantes, as amigas lunáticas. Eu quero que você me bata quando estiver com raiva, que grite comigo, que atire coisas em mim... Quero gritar de volta, me arrepender e te calar com um beijo. Quero que você me abrace quando estiver triste, que chore no meu ombro, que me conte qual o problema mesmo que eu não saiba o que dizer para fazer você se sentir melhor. Quero que você critique minhas roupas, meu corte de cabelo, minha loção pós-barba, o modo como organizo meus livros... Quero detestar cada palavra que você disser, mas terminar admitindo que não conseguiria chegar ao final do dia sem você por perto. Quero esquecer qual a flor que você mais gosta, a sua música preferida e sua cor favorita e, depois de te ouvir gritar durante horas por isso, te lembrar que a minha flor preferida é a que te dei no nosso primeiro encontro, a minha música preferida é a que estava tocando quando nos beijamos pela primeira vez e a minha cor favorita é a cor dos seus olhos. Os olhos mais lindos da galáxia. Os olhos que eu mais amo por serem os olhos da menina que mais amo. E se eu partir seu coração...”.

Você não pode partir um coração partido”, ela interrompeu, seus olhos marejados, os cacos do seu coração palpitando em seu peito.

“Bom, nesse caso eu trouxe isso”, e ele tirou do bolso do casaco preto um tubo de cola branca. Sorriu torto para a garota, dando um passo para perto enquanto ela jogava a cabeça para trás em uma gargalhada lacrimosa. “Porque quero ser o seu único – o único que você odeia, que parte seu coração, que conserta seu coração, que te ama mais que tudo e que você também ama... Um pouquinho que seja”.

“Eu não te amo um pouquinho”, ela protestou, passando os braços pelo pescoço do garoto e roçando o nariz no dele com tranquilidade – como se pretendesse repetir aquele gesto pelo resto de sua vida. “Eu te amo mais que tudo”.

“E eu te amo mais”, ele retrucou, pousando as mãos em sua cintura. E, quando ela abriu a boca para reclamar, ele colou os lábios aos seus.

A chuva caiu. O beijo durou. A história continuou – para sempre, eu espero. Com algumas vírgulas, mas nunca um ponto final.


"When I'm kissing you it all starts  making sense
And all the questions I've been askin' in my head
Like 'Are you the one? Shoud I really trust?'
Crystal clear it becomes when I'm kissing you..."

(Kissing You - Miranda Cosgrove)

Texto escrito para a 55ª edição musical do Projeto Bloinquês (:
PS.: Você sabe que esse texto é pra você... Que eu não chegaria ao final do dia sem você... Que quero ser a sua única mesmo que não saiba o que dizer para as coisas melhorarem.

7 comentários:

Rafa Sady disse...

êêêêê vc postou *0*
Está lindo, como sempre, e esse não vai curar a seca da africa \o/
Nhaw, desculpe por ser tão estressada D:
É engraçado como mesmo não sabendo o que dizer, vc sempre faz tudo ficar melhor, só por existir. Eu te amo <3
:*

MK disse...

Você é escritora de verdade?
Ah, escreve toda hora, todo dia?
Deus, como amo ler seus textos.
Você os escreve?
Ah, como podem ser tão lindos?
Tão bem escritos?
Aah...Escreve mais?


morgannaleiriao.blogspot.com

Jessica *.* disse...

Ownnn! Que meigooo! Adorei o seu texto! Tão expressivo e emotivo!
Você escreve muito bem! Parabéns! E boa sorte com o concurso!

Se puder!
http://lamoursda.blogspot.com/

Beijinhos!

Jessica *.* disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jessica *.* disse...

Oi! Sei que foi rápido,mas eu gostei bastante do teu blog e dos textos.

Queria te indicar um selo.Basta pegar no meu blog:

http://lamoursda.blogspot.com/2011/02/selinho.html

E seguir duas regrinhas básicas:
1ª Indicar 10 blogs que você goste.
2ª Dizer 4 (maneiras) atos de amor que você considera importante.

Beijinhos!

Any disse...

aaaaaaaaaaaahh, ameei ameii ameei. como sempre, né. você vai ganhar, se não ganhar, vai ser roubo deles :x
hasuhasuashuashaushasuhsauashasu
boos sorte
beijos

Marcella Leal disse...

Que história mais linda, realmente amei, maravilhoso isso de ele aceitar os defeitos dela, a familia, as amigas... eu amei mesmo a história.

Confessando: chorei kkk

Beijos